Religião
Arautos do Evangelho: Mitos, Farsas e Verdades
Há quem se refira aos Arautos do Evangelho colocando sobre eles uma aura de santidade, outros os veem como católicos ultraconservadores e já houve até quem pensasse que eles sequer fossem católicos. Afinal, por que eles são tão diferentes? O que é verdade e o que é mito sobre esse grupo tão incomum?
Os Arautos do Evangelho são uma Associação Internacional de Fiéis de Direito Pontifício, a primeira a ser erigida pela Santa Sé no terceiro milênio, o que ocorreu em 22 de fevereiro de 2001.
Com vestes diferentes: botas de cano alto, túnicas brancas com escapulário marrom (os leigos) ou tudo marrom (os clérigos), com uma enorme cruz vermelha e branca na frente e uma pesada corrente presa na cintura, os Arautos do Evangelho chamam a atenção aonde chegam.
Depois de conhecê-los melhor, nota-se que não são apenas as suas roupas que chamam a atenção, mas também o seu comportamento, sempre reto, firme, porém, cativante.
Há membros mais velhos, que caminhavam juntos antes da fundação do grupo, remanescentes da TFP (Tradição Família e Propriedade, sociedade civil de inspiração católica fundada pelo professor Plinio Corrêa de Oliveira), e uma grande quantidade de jovens, que receberam formação do Mons. João Clá Dias, discípulo do Dr. Plinio.
Seriedade e entusiasmo
Em contraste com a postura firme e defensora dos valores da Igreja, os Arautos do Evangelho conquistam pelo seu entusiasmo, pois, longe de apresentarem uma fé caduca e desatualizada, demonstram um grande amor pela Igreja e pelo papado, entregando suas vidas pela preservação dessa sagrada instituição fundada por Jesus Cristo sobre São Pedro.
A maioria das pessoas se desacostumaram de ver religiosos que trajam o hábito em seu dia a dia, linkando isso a ordens religiosas antigas, o que pode criar a falsa impressão de que o grupo é excessivamente fechado e ultraconservador, mas, isso não corresponde à realidade. E, para perder essa impressão equivocada, basta assistir às Missas dos Arautos ou qualquer dos vários programas que eles mantêm no Youtube.
Quando estão em suas atividades de estudo e de trabalho, normalmente, mantêm o silêncio, porém, quando falam, não falam qualquer coisa e nem de qualquer forma, porque, quem aprende a cultivar o silêncio, aprende a falar com sabedoria. Dessa forma, até mesmo em uma conversa trivial, eles conseguem transmitir preciosas lições.
Evangelização pela música
Outro grande diferencial dos Arautos do Evangelho é a música. Seu fundador, Mons. João Clá Dias, falecido no dia 1º de novembro de 2024, era um músico talentoso e grande maestro e, por acreditar na evangelização através da música, criou o Coro e Orquestra Internacional dos Arautos do Evangelho.
Com um vasto repertório que inclui o canto gregoriano e a polifonia sacra, passando por cânticos regionais de diversos países e obras de compositores clássicos e românticos, o grupo musical se apresenta em Missas, concertos, celebrações religiosas e eventos culturais, tendo seu ponto alto nos concertos de Natal e da Semana Santa. São espetáculos que encantam e elevam a alma.
Eles gravaram alguns álbuns e podem ser ouvidos em aplicativos de música como Spotify, YouTube Music, Apple e Amazon Music.
Consagração a Nossa Senhora
Os Arautos sempre incentivaram a consagração a Nossa Senhora segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort e cerca de três milhões de pessoas já se inscreveram no curso de preparação à consagração oferecido por eles de forma gratuita. Ele é totalmente on-line, exceto no dia da Missa Solene com a cerimônia de consagração, após o término do curso.
É um dia em que os alunos se reúnem para a leitura solene de um documento chamado “Consagração de si mesmo a Jesus Cristo, a Sabedoria Encarnada, pelas mãos de Maria”, popularmente conhecido como “Consagração a Nossa Senhora”. Com esta ação, vê-se o poder dos Arautos para agregar pessoas em torno de um ideal maior.
Todos os Arautos, sem exceção, fizeram essa consagração, sendo, portanto, muito devotos da Virgem Maria. E reúnem multidões em torno desta devoção!
O Pe. Ricardo José Basso, consagrado a Nossa Senhora há mais de 50 anos e autor do livro “Por que me consagrar a Nossa Senhora?”, é quem está à frente dessa ação evangelizadora, e explica que os Arautos cuidam com muito zelo e dedicação da divulgação do Evangelho e da Consagração a Nossa Senhora, em obediência a um incentivo recebido diretamente do Papa São João Paulo II: “Sede mensageiros do Evangelho pela intercessão do Coração Imaculado de Maria”.
Pela ação missionária que desenvolvem, em agosto de 2009 o Papa Bento XVI concedeu ao fundador, Mons. João Clá Dias, a medalha “Pro Ecclesia et Pontifice”, uma alta honraria concedida pelo Papa apenas aos que têm destacada atuação em prol da Igreja e do Romano Pontífice.
Mitos, Farsas e Verdades
Há cerca de seis anos, os Arautos foram vítimas de uma campanha difamatória promovida por alguns ex-membros, desligados do grupo por questões de foro íntimo ou por não se adequarem à disciplina necessária à vida em comunidade.
A fim de dar mais ênfase às acusações feitas ao grupo, o mesmo núcleo de pessoas se esforçou em conseguir a atenção da mídia e da Defensoria Pública de São Paulo, que iniciou procedimentos para a apuração dos fatos. Utilizaram-se também do expediente de abrir ações semelhantes contra os Arautos em diversas comarcas.
O caso acabou ganhando repercussão e foi parar até no Fantástico, da Rede Globo, numa matéria parcial e sem igual espaço para manifestação dos Arautos.
Apesar de serem denúncias genéricas, sem apontar autoria ou situações específicas, apenas afirmando que os Arautos praticavam abuso psicológico e alienação parental, pelo fato de envolverem uma ordem religiosa, o Vaticano deu início a um comissariamento, colocando a Associação sob a autoridade do Cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito de Aparecida.
Diante das contradições dos acusadores, com argumentos que não se sustentaram e absoluta ausência de provas, as denúncias e ações impetradas contra o grupo acabaram extintas pela Justiça, por falta de materialidade.
Toda essa movimentação acabou criando um mito de que os Arautos estavam contra a Igreja ou que submetiam pessoas a situações vexatórias.
Tudo não passava de uma farsa, mas, pessoas de bem que são, os Arautos não poderiam deixar de mostrar a todos a verdade sobre a vida, a devoção e as atividades de seus membros.
Males que vêm para o bem!
Foi assim que teve início uma nova fase na vida desses religiosos e leigos de vida consagrada que, de pessoas recolhidas, com intensa vida de oração e obras de caridade, se tornaram conhecidos, cada vez mais estimados e com intensa participação nas redes sociais, com um crescente número de seguidores.
E o mais impressionante é que eles conseguiram ocupar um grande espaço na mídia sem abrir mão do recolhimento, do silêncio, do estudo e das tarefas laborais comuns à vida religiosa.
Entre as suas atividades virtuais, destacam-se os cursos on-line com temática religiosa, na Plataforma Reconquista e o podcast Salve Maria!, um dos principais podcasts católicos da atualidade.
O sucesso de seus empreendimentos, seja a construção de uma nova igreja, a apresentação de um concerto, a formação dos alunos matriculados nos colégios que administram, os programas no Youtube, as viagens missionárias, as ações culturais, as visitas aos enfermos e tantas outras atividades que realizam se deve, em grande parte, à harmonia que existe entre eles.
É até difícil acreditar que deem conta de tantas frentes, executando cada tarefa de maneira exemplar.
“Harmonia entre os irmãos, disciplina e irrestrita confiança em Nossa Senhora, estas são as chaves que abrem todas as portas”, explica o Pe. Ricardo Basso.
Diante disso, pode-se dizer, como os antigos, que “há males que vêm para o bem”, pois, quem conhecia os Arautos só de ouvir falar, agora pode conhecê-los de perto e apreciar tudo que eles têm a oferecer.
Conversão, esperança e fé
Alguns insatisfeitos podem até ter tentado calar a sua voz, abafar o seu canto, modificar as suas vestes, fechar os seus colégios, conspurcar a sua imagem, mas ninguém pode tirar a essência daquilo que Deus abençoa.
Presentes em quase oitenta países, os Arautos ensinam a fé em Deus e a devoção a Nossa Senhora, aos Anjos e as Santos com seriedade e alegria. Com padres sempre dispostos a ouvir confissões, promovendo a reconciliação com Deus, por onde passam levam a conversão, a esperança e a fé .
Enfim, transmitem, com seus modos e sua forma de viver, o exemplo de tudo o que um católico deve ser, relembrando, com base nos Evangelhos, dos quais são os anunciadores, o que Deus espera de cada um de nós.
Santiago Sá